sexta-feira, 19 de junho de 2009

Profissionalismo indecente

Por Alexandre Gazé Filho (JORNALISTA)

Há alguns anos venho colaborando na matéria da obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. E não somente eu, como todos os órgãos de classe, o Procurador Geral da República (2004) Cláudio Fonteles entre diversos outros indignados. O ministro Marco Aurélio Melo parece ter sido o único são nesta sessão solene (sic!) ocorrida em 17 do corrente.

Enfim, a juíza Carla Richter vive seus dias de glória. Em 2001 ela decidiu que não seria necessário o diploma para exercício da profissão. Alguém tem memória fotográfica? Gravem códigos e legislações, sejam bons intérpretes e podemos todos ser: delegados, tabeliães, juízes, promotores, defensores públicos, representantes – a voz dos necessitados... o que mais um advogado pode ser? Sim, claro, consultores em programas jornalísticos. Isso não deve bastar, devem ser também jornalistas.

Quem é o jornalista afinal? Qual a sua importância? Qual o motivo desta defesa ferrenha na obtenção do diploma para que a profissão seja exercida?

Há algumas décadas, qualquer um poderia ser jornalista, desde que, intrínseco em sua formação, estivesse o domínio de um bom português, uma perspicácia eficaz para obtenção de informação, boas fontes entre os diversos aspectos inerentes ao dia a dia daquele que por muitas vezes sacrifica seus relacionamentos para levar uma informação cara e fiel ao leitor.

Desde o final da década de sessenta a profissão é regulamentada. Em um exercício de pesquisa, livremente acessada pela internet através de seus mecanismos de busca, pode-se ver que nos últimos anos, em diversas versões e direções, tentou-se dar outro rumo à regulamentação. Houve quem tentasse diminuir o número de funções, aumentar, limitar, eliminar, enfim. Na aparente tentativa de promover um debate ouvindo a população, as entidades de classe e interessados no assunto, os que menos parecem ter sido levados em consideração foram a população e as entidades de classe. Os interessados ganharam.

Sem mais delongas, o que me parece ser importante ressaltar é que: (i) toda e qualquer profissão deve ser regulamentada. Seu exercício deve ser pautado em: (i1) exigência de nível médio ou técnico, (i2) exigência de nível superior; (ii) r0ebaixar a importância da formação superior para o exercício da profissão é empobrecer anos de experiência dos jornalistas anteriores à década de sessenta, que muito contribuíram para aprimorar as experiências que deveriam ser aprendidas, com o suor e sangue do exercício diário (se tiverem dificuldades de lembrar: tiroteio na porta do Jornal do Brasil e consequente tentativa de interdição do jornal).

Saibam por gentileza: não defendo que pessoas que decidem virar advogados, possam assim proceder. Muito menos que uma enfermeira faça um cursinho de veias para tirar sangue, aplicar medicamentos e primeiros-socorros sejam aceitos normalmente, como experiência de vida, ao aplicar a injeção no bumbum da vovó fosse capaz de lhe conferir atributos para tal.

Defendo ferozmente o ensino superior. Cada um tem de obter o máximo de experiência em sua área, com profissionais capacitados pelo mercado, pelos mesmos bancos universitários ou profissionalizantes, guardadas as proporções. Não sejamos levianos. Ao terminar com a Lei de Imprensa, autoritária e resquício de uma época antidemocrata, não abrimos a oportunidade de deixar de lado a qualificação profissional.

Pessoalmente, meu projeto de vida é formar novos profissionais. Seja em qual área meus alunos desejarem. A minha? Vocês sabem: MTB 29.367/RJ. Jornalista profissional com formação de nível superior. Identidade? Pois não – saco minha carteira da Fenaj.

Não jogo meu diploma no lixo. Cuidado meus caros profissionais, pois existe a possibilidade de pensarem em outras profissões que se enquadrem na qualidade de notório saber e rebaixarem a importância de tudo que vocês aprenderam em anos de estudo. Saber fazer conta pode ser pré-requisito para ser um bom contador.

E terminando por aqui, para que existe o MEC?

1 comentários:

Renan Barreto disse...

Faço minhas as suas palavras... Rebaixar a profissão não é saída pra democratização de informação nenhuma. É saída pra diminuir salários e obrigações.

http://melhoropiniao.blogspot.com

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