sexta-feira, 29 de maio de 2009

Pacientes substituem ida ao médico por diagnóstico na internet

Orlando Castor
(7° período)



Saúde é assunto sério e voltado somente para profissionais qualificados, mas não é o que muitos brasileiros seguem a risca. Os índices de automedicação no Brasil são um dos mais elevados do mundo e na era da informação veloz, os pacientes podem ser levados a enganos porque fazem os exames e não retornam ao consultório a fim de terem diagnóstico. Vão até a internet, pedem ajuda nos fóruns virtuais, e tentam descobrir a cura para a possível doença.

A cada dia, é maior o número de pessoas que buscam informações médicas na rede. Quando esses dados são usados para o autodiagnóstico e a automedicação, surge o perigo. O Conselho Regional de Medicina alerta que nada substitui uma consulta, que é muito mais esclarecedora.

Cerca de 40 milhões de brasileiros têm acesso à internet. O tema “saúde” é um dos preferidos, passando, inclusive “informação” e “pornografia”. Segundo levantamento da Universidade de São Paulo (USP), boa parte dos médicos não gostou de saber que os pacientes fizeram pesquisa na internet antes da consulta. Muitos desses pacientes buscam informações mais precisas, mas se a fonte não for precisa pode gerar alarde e provocar até um desgaste emocional para o paciente – e um problema a mais para os médicos.

Além de ler, muita gente escreve pras comunidades virtuais, com dúvidas que só os médicos deveriam tirar. Uma mulher com hepatite B pergunta: “Vocês poderiam me ajudar com os resultados dos exames?”. Outra, com hipotireoidismo, pede ajuda: “Alguém sabe me dizer o que significam essas dosagens?”. Tem uma paciente que já passou pelo médico e reclama que ele a encaminhou para um especialista só daqui a duas semanas. “Isso não é muito tempo?”, pergunta. Um rapaz a tranquiliza: “Siga as instruções do seu médico”.

Segundo o médico Evandro Baldacci, muita gente vem para a consulta com uma ideia errada da doença depois de pesquisar na internet.

“É muito difícil esse processo de interpretação. Entre os sinais e sintomas de uma doença lidos num manual e a interpretação daquilo que está acontecendo num paciente por um médico treinado em analisar sinais e sintomas, há uma diferença muito grande. Senão, era muito fácil fazer medicina. Precisava simplesmente de um bom computador, um bom aparelho e estava tudo resolvido”, disse.

A internet virou uma ferramenta fundamental para muita gente, inclusive para os próprios médicos, que usam a rede pra ler artigos científicos e divulgar trabalhos. O importante para quem tenta se informar sobre a sua saúde ou a de algum parente é reconhecer as fontes confiáveis e saber que o computador não substitui uma consulta médica.

A pesquisadora Wilma Madeira, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, estuda o impacto da rede mundial de computadores na relação entre médico e paciente. Um levantamento que ela fez na USP apontou que 85% dos pacientes já acessaram a internet depois de ir ao médico para tirar dúvidas; 67% disseram que usam as informações da rede para tomar decisões sobre a própria saúde; e 56% relataram que os médicos não gostaram de saber que os pacientes fizeram esse tipo de leitura antes da consulta.

A pesquisadora acha positivo o interesse dos pacientes e diz que eles e os médicos devem se acostumar a uma nova relação.

“O profissional médico acaba tendo de se envolver mais com caso quando o paciente se mostra mais preparado. Ele acaba tendo um tempo maior de consulta e ele tem de explicar, porque a pessoa se mostra mais interessada com o caso. De forma geral, eu diria que é positivo”, defende a pesquisadora.

0 comentários:

Blog Widget by LinkWithin