terça-feira, 10 de março de 2009

Nova ortografia, dúvidas demais
Acordo da língua portuguesa ainda promove debates entre acadêmicos e população


Por: Orlando Castor (7º período)




Desde 1º de janeiro deste ano, todos os países que falam português estão sob novas regras ortográficas através de um acordo discutido desde 1995 pela CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Com isso a população de Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Timor Leste e São Tomé e Príncipe devem prestar muita atenção na hora de escrever desde um simples bilhete até documentos acadêmicos e obras literárias.

Segundo a Academia Brasileira de Letras, a reforma é pequena no Brasil: cerca de 0,6% das palavras sofreram algum tipo de alteração. Entretanto em Portugal e nos demais países, as mudanças foram mais radicais atingindo 1,7% dos vocábulos.

“Houve necessidade de uma reforma para unificarmos cada vez mais a língua portuguesa e torná-la mais forte internacionalmente, ampliando a produção literária e acadêmica. Em Portugal as modificações foram bem maiores, e por isso eles dizem que trata-se de uma imposição brasileira, o que não é verdade”, explica a professora Cristiane Hetom, mestre e doutoranda em Língua Portuguesa.

O alfabeto é o primeiro sistema a passar por mudanças, e passa a ter 26 letras, introduzindo-se oficialmente K, W e Y. As demais modificações do novo acordo se deram no modo de escrever, como o trema (¨), sinal colocado sobre a letra U e que deixa de existir. Dessa maneira, passamos a escrever “linguiça”, “sequência”, “ensanguentado” etc. Em Portugal, a nova ortografia trouxe a extinção de letras em várias palavras: “actor” agora se escreve “ator”, “Egipto” agora é “Egito”, “húmido” escreve-se agora “úmido” etc.

Em todo o sistema linguístico, as dúvidas dos alunos aparecem nas regras de acentuação, que para nós, brasileiros, passam a ser iguais àquelas já usadas em Portugal, Angola e Moçambique. Por isso, é bom prestar atenção:

• Não se usa mais o acento nos ditongos abertos “éi” e “ói” das palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba, as paroxítonas. Exemplo: alcateia, assembleia, boia, Coreia, estreia, ideia, joia, plateia etc.

• O acento também não se aplica nas letras “i” e “u” em palavras paroxítonas quando vierem depois de ditongos. Exemplo: bocaiuva, feiura etc.

• Não se usa mais o acento em palavras terminadas em “êem”, “ôo” e “ôos”. Exemplo: abençoo, creem, enjoo, leem, voos, zoo etc.

• Não se usa mais o acento que diferenciava algumas palavras. Exemplo: para (verbo “parar”), pelo (substantivo), polo, pera etc.

Outro dispositivo do acordo ortográfico estabelece uma série de regras em relação ao hífen. Dúvida entre profissionais do texto, professores e alunos, algumas palavras foram aglutinadas, outras separadas e demais ganharam o pequeno sinal.

“Em relação ao hífen, são mais de doze regras específicas para cada caso. Acredito que, por aí, a pessoa tenha paciência e leve um tempo um pouco maior para se acostumar a esse novo jeito de escrever determinadas palavras. O exemplo da mudança é a palavra ‘micro-ondas’, agora escrita dessa forma”, esclarece a professora Cristiane.

Com o início do ano letivo de 2009, os alunos tiveram que integrar ao material escolar mais um livro: o dicionário atualizado com as regras e palavras do novo acordo ortográfico – utensílio essencial também para os universitários, afinal algumas faculdades públicas do país já pedem artigos, monografias, teses e dissertações afinadas com as regras mais recentes da língua portuguesa.

“É bom ter calma e não é preciso ter pressa. Recomendo, principalmente aos universitários, que no tempo livre olhem o dicionário do novo acordo e comecem a agregar as novas palavras. Provas de concursos e vestibulares é que trabalharão muito essa dúvida e podem fazer pegadinhas, principalmente com o hífen. É bom estar de olhos bem abertos”, conclui Cristiane Hetom.

Entre muitas dúvidas, vale ressaltar que, por enquanto, as duas ortografias ainda são aceitas nas escolas, universidades e instituições públicas. O Brasil tem quatro anos para se adaptar totalmente, enquanto que os demais países têm seis anos de vantagem.

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